Paranaense relembra acidente de balão na mesma cidade onde 8 pessoas morreram em Santa Catarina
22/06/2025
(Foto: Reprodução) Ana Carolina desmaiou após pouso de emergência em Praia Grande. Ela relata falta de orientações de segurança durante o passeio em 2022. Ana Carolina realizou o passeio de balão em Praia Grande, no sul de Santa Catarina
Arquivo pessoal
A paranaense Ana Carolina Gonçalves, de 35 anos, moradora de Paranavaí, no noroeste do estado, lembra com detalhes o dia em que sofreu um acidente durante um passeio de balão em Praia Grande, no sul de Santa Catarina.
A cidade é a mesma onde, no último sábado (21), oito pessoas morreram após um incêndio e queda de um balão de turismo.
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Ao saber da tragédia deste sábado, Ana Carolina diz que reviveu o medo que sentiu no dia do acidente. Ela também reforça que, na época, não recebeu orientações claras sobre segurança.
“Não foi apresentado nada além de um vídeo mostrando como seria o passeio. No final, ainda fizeram um brinde com espumante e disseram que tínhamos escolhido a melhor empresa”, afirma.
O acidente de Ana Carolina aconteceu em dezembro de 2022, durante a alta temporada de balonismo da região. O voo fazia parte de uma programação de fim de ano e foi organizado por uma empresa diferente da que operava o voo que caiu no último sábado.
O governo federal esteve em Praia Grande (SC) 15 dias antes do acidente com balão que incendiou, despencou e deixou oito mortos. Na reunião do dia 6 de junho, o Ministério do Turismo discutiu a regulamentação nacional da prática de balonismo e defendeu regras específicas para a operação turística e comercial da atividade.
Lotação, insegurança e falta de orientação
Segundo Ana, no balão as pessoas ficavam em 'baias' que ajudavam a equilibrar o peso
Arquivo pessoal
Segundo ela, o passeio começou de madrugada, para coincidir com o nascer do sol. O local estava lotado e, antes do embarque, os participantes receberam apenas um vídeo com orientações básicas.
Ana Carolina relata que, naquele dia, cerca de 25 balões subiram ao céu. “A empresa que a gente contratou colocou seis balões para voar naquele dia”, diz.
O tamanho do cesto também preocupou a paranaense. “Era um cesto grande, dividido em baias. Em cada espaço cabiam quatro pessoas. Só o piloto ficava sozinho. A gente só tinha as laterais do cesto para se segurar", descreve.
Ela conta que o balão não subiu de forma estável. “Ele saiu quicando no chão, se arrastando até ganhar altura. O piloto pediu para ninguém mudar de lugar para manter o equilíbrio.”
Durante o voo, o grupo enfrentou turbulência ao atravessar uma camada de nuvens. “Todo mundo gritou, ficou assustado. O piloto desceu um pouco para acalmar a situação”, lembra.
Tentativas de pouso e momentos de pânico
O passeio que deveria durar cerca de 60 minutos, se prolongou por 2 horas
Arquivo pessoal
O voo, que deveria durar cerca de uma hora, se estendeu por quase duas. Segundo Ana Carolina, o piloto teve dificuldades para encontrar um local seguro para pousar, enquanto o balão era levado na direção dos cânions da região.
“Foram várias tentativas de pouso. Passamos muito perto de árvores e fios de contenção”, conta. Ela diz que o piloto mantinha contato por rádio com a equipe de apoio, que acompanhava o grupo por terra.
Na aproximação final, a orientação foi que todos ficassem em posição fetal, com a cabeça entre as pernas.
“Meu marido me abraçou e falou que ia ficar tudo bem. Só senti a pancada e todo mundo caindo por cima de mim”, recorda.
O cesto chegou a bater em um barranco. Ana Carolina desmaiou com o impacto da queda. “Meu marido, que é fisioterapeuta, me socorreu. Tive uma concussão, ele cortou o supercílio e outras pessoas também se machucaram”, afirma.
Após o acidente, a equipe de apoio realizou os primeiros socorros ainda no local. Ana Carolina foi a primeira a ser retirada do balão e encaminhada para um ônibus da empresa, que levou os passageiros até a loja central.
“No local fizeram curativos, mas como só tinha um postinho de saúde na cidade, meu marido preferiu que voltássemos para Paranavaí para fazer exames mais detalhados”, relata.
A empresa ofereceu reembolso pelas despesas médicas e um voucher para um novo passeio.
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Regras para voos de balão
A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) estabelece regras específicas para a operação de balões livres tripulados sem certificado de aeronavegabilidade, como os usados em passeios turísticos.
De acordo com o Regulamento Brasileiro da Aviação Civil (RBAC) nº 103, o operador precisa ter cadastro ativo de aerodesportista e o balão deve estar devidamente registrado, com identificação visível.
Os documentos da aeronave e o seguro obrigatório devem estar a bordo durante o voo. Os passeios só podem acontecer de dia e em condições meteorológicas favoráveis, com visibilidade e contato visual constante com o solo. Voos sobre áreas densamente povoadas ou com aglomeração de pessoas são proibidos.
Além disso, os operadores devem informar claramente aos passageiros que a atividade envolve alto risco, sendo realizada por conta e risco de cada participante.
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